segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Ângulos Retos

Calafrios se intercalaram com suspiros e junto com a dor que sentia por dentro a fizeram cair em lagrimas. Segurou o quanto pode, ficou durante horas em frente ao espelho olhando para uma face que não era dela, o plangor que havia naquele rosto, lhe fazia ficar desconhecida aos próprios olhos, e quando não podia mais agüentar se esvaiu em lagrimas, mas um choro diferente, que escoria pelos poros, pelos cabelos, pelas costas em forma de calafrios, nos dedos dos pés, pela genital, nos seios intumescidos. O seu corpo clamava por alguma coisa mais forte que pudesse aliviar esse sentimento, uma droga, um banho ou um abraço que fosse. Mas nada, não ali, naquele momento, fez com que ela se sentisse melhor.
Não lembra como isso acabou, mas acordou em algum lugar no tempo que ela não sabia se fevereiro ou março, outono ou verão. Quando retomou seus sentidos, seu corpo estava dolorido, se levantou e foi para o banheiro olhou o espelho antes inquisidor de uma agonia sem fim e tomou coragem ficou encarando ele por um segundo com os olhos fechados , por alguns segundos em sua mente a imagem da agonia se fez presente, mas ela suspirou e abriu os olhos de uma vez , e ficou mais alegre com a sua face recomposta como se tivesse saído de um sono de beleza, de uma hibernação que lhe fez bem , muito bem por sinal.
Tomou um banho quente, e logo seu corpo se refez do mal estar. Foi até o mercado comprou algumas besteiras e voltou para seu apartamento, abriu a janela e deixou o sol iluminar a sala, quando o sol sem cerimônias entrou pela janela , iluminou também a solidão que lhe fazia companhia, ela se sentou no chão e o sol a fez fechar os olhos, como quem vê alguém morrer e lhe fecha os olhos , estava sentada no sol mas sentia frio, não podia mais continuar assim, sem amigos, sem amor, sem um cachorro que fosse, estava ali na companhia da solidão e do medo , medo de uma nova crise de um novo sono que a levava da escuridão da sua casa para a grande sala sem luz dos pensamentos, não sabia por onde começar só precisava se de um empurrão, uma voz mesmo que interior que lhe falasse uma direção, olhos os ângulos retos da sala onde estava e se deitou no chão, abriu os braços em cruz e desejou do fundo do coração.... Para que esse parasse de bater...

Ficou ali deitada por alguns minutos, ate que escutou uma batida forte na porta de seu apartamento, pensou deve ser o sindico cobrando o condomínio atrasado, quando abriu a porta viu na sua frente uma figura estranha , cabelos encaracolados olhos verdes um rosto claro e envergonhado, na mão trazia um anuncio de divide-se AP. Ela já tinha se esquecido desse anuncio que tinha posto na lanchonete da faculdade, ninguém nunca tinha vindo ali antes, ela achou estranho gaguejou um pouco antes de dizer alguma coisa.Mas enfim pensou que esse poderia ser sinal, quem sabe a mudança viria dessa figurinha ali na sua frente.
A menina se sentiu a vontade no novo ambiente, que já tomava outra forma aos olhos da velha dona, de longe ficava observando a menina arrumando o quarto, as calcinhas espalhadas em cima da cama, o corpo que ainda aparentava estar se formando, a fragilidade dos movimentos, o conjunto lembrava um balé onde a musica é suave e os movimentos leves como plumas, mas por falar em dança, ela sentiu uma tontura e seu corpo se sentiu frio, uma dança macabra se apoderou de seus movimentos e a fez cair. Os sentidos demoraram a voltar, primeiro foi o olfato sentiu o cheiro de um perfume que ela adorava, logo vieram o tato e o paladar e por ultimo a visão, abriu os olhos e viu ela ali, viu mais de perto os traços do rosto , o nariz mais perfeito que tinha visto em sua vida, notou que ela também trazia uma tristeza no olhar , notou que não usava brincos, e que tinha aparelho na nos dentes de baixo, talvez por isso não sorria muito, ia falar algo mas sentiu algo no peito , como se seu coração parasse de bater por alguns segundos, pegou na mão da menina e segurou contra seu peito , sentiu uma pressão forte quase uma dor, quase ficou sem ar, será que seu pedido iria se realizar logo agora, suas pupilas se dilataram sentiu o sangue correr, os poros se dilatarem, pensou ser a morte, mas ali, entre os ângulos retos de seu apartamento descobriu o amor.

Um comentário:

Fabián disse...

Gostei. Muito, de verdade.
Abrazos!