terça-feira, 31 de março de 2009

Tudo em paz no reino da Dinamarca!




Tudo em paz no reino da Dinamarca.

Os cheiros de livros e de café se misturam, e essa combinação se mistura ao cheiro de Helen. Vinte e poucos anos, semblante de mulher vivida. Batom rosinha cor de boca, lápis nos olhos, mas pouco, que é pra não chamar a atenção.
Helen é assim, não gosta de chamar a atenção, sempre quieta, responde o necessário, um sorriso simples, uma caminhar vago como chuva fraquinha em sonho de criança.
Helen loirinha, cabelos encaracolados que nas voltas das molinhas ficam num tom avermelhado. Helen olhos azuis. Helen com um sotaquezinho do vale de Santa Catarina, Herança de seus avos refugiados da Alemanha.
Gostava de trabalhar , era esforçada fazia valer a pena o pouco que ganhava, chegava em casa exausta e lavava seus cabelos com um xampu de flores do campo que lhe fazia lembrar da cidade onde nasceu, da roça de cebola, das brincadeiras no meio do campo, de ajudar a mãe a fazer o pão para os cinco irmãos. Concentra-se um pouco mais e lembra o cheiro de sua mãe . Lembra das corridas de bicicleta ate o colégio , dos tombos, do gosto da terra em sua boca, da mentira pra não apanhar em casa por que se machucou. Lembra dos vaga-lumes.
Helen sai do banho e se seca senta no sofá e toma uma xícara de café, que vêm acompanhadas de mais lembranças.
Nem tão boas agora.
Lembra do cheiro do pai, do álcool misturado ao suor, lembra do medo, do choro engasgado quietinho no quarto. Lembra da mãe forte que agüentava tudo sem demonstrar fraqueza.
Lembra quando uma grande empresa chegou e transformou a roça de cebola em roça de fumo.
Lembra que no começo era bom, as coisas deram uma melhorada.
O pai o mesmo, na lavoura, forte trabalhador. Em casa, cheiro de trabalho com vício.
Lembra da despedida, Ônibus para a cidade grande o coração disparado, o medo o choro na garganta de novo .
Sempre trabalhava com animo e disposição, de vez em quando de volta ao sitio gostava de ir até o campo de respirar de novo. Logo se acostumou ao ritmo da cidade, e outras cidades vieram, mas Helen sempre firme sempre disposta carrega dentro do peito a figura da mãe diante da tempestade.
O tempo passa e Helen cada vez mais forte mais distante da família.
As visitas cada vez mais espaçadas a casa da família faziam seu coração ficar mais duro mais forte.
E um acontecimento repentino marcou de vez a cicatriz e selou seu coração. Lembra do semblante da mãe na cama do hospital, do ultimo adeus.
Hoje Helen mulher forte, antes de chegar onde esta hoje passou por muitas outras coisas. Sempre se fortalecendo, aprendendo com os erros. Nos dias em que esta muito cansada ela se desfaz da armadura e chora no chuveiro deixa a água levar as tristezas, o mesmo choro engasgado da criança com medo.
Faz 4 anos que Helen me contou sua historia, contou alguns trechos com os olhos e o com o jeito molinho de falar. Lembro de estar sentado em sua casa no chão da cozinha enquanto Helen lavava roupas. Helen e casada com um amigo meu, o que sentia por ela era um grande carinho. Hoje sinto um amor Fraternal e tenho respeito pela fortaleza que essa menina representa. Helen e a realmente uma menina Super poderosa. Hoje em dia tudo em paz no Reino da Dinamarca.