sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Mistress.


....O calor de seu corpo escorria pelos meus lábios trêmulos. Olhei para seus olhos de inquisidor que diante da escuridão que lhe cobria as costas resplandecia num luzir comparado ao das estrelas na escuridão do infinito. Suas palavras não foram doces, da sua boca, apenas o escárnio do prazer, suas mãos me puxavam em sua direção, fazendo com que meus cabelos quase se desprendessem do couro cabeludo. Seu sexo latejava o sangue quente que percorria as suas veias com a força da luxuria e do prazer.
Amarrou-me bruscamente fazendo com que os nervos de meus pulsos estralassem como que um osso ao se partir em mil pedaços. Quando acendeu as velas a luz infernal que delas emanava mostrou seu rosto possuído por um descontrole que me fez tremer dos dedos dos pés aos últimos fios de cabelo, Mas o medo se tornou volúpia ao pingar das gotas quentes de cera sobre meu corpo, que estourou num gozo sem fim ao primeiro estalar de seu chicote sobre o meu corpo alvo, que de tão branco tinha ares cadavéricos.

Meu orgasmo foi seguido de um lapso de incapacidade emocional, que aos poucos me levou a um estado de transe onde os sentidos não passavam de neblina numa noite escura.

Não sei o que exatamente estava sentindo, quando o seu punhal rasgou o meu pescoço aos poucos um frio quase terno tomou conta de mim, eu tinha razão e você nunca irá saber, nunca poderei lhe explicar. O sangue logo coagulou em meus seios, antes rijo agora rubro. Meus olhos aos poucos foram se avermelhando e um circulo negro se fez pouco antes de meu ultimo suspiro....


Dona Miguelina também suspirou ao terminar de ler as escondidas o texto de um blog que entrava sempre que estava sozinha em casa. Foi a filha mais velha que lhe ensinou a usar o computador, a fazer pesquisa no Google. Dona Miguelina, mulher esperta aprendia rápido, todas as tardes enquanto o marido e os filhos estavam no trabalho, realizava seus desejos através de uma pagina de contos na internet. Era dona de casa desde que casou aos vinte e cinco anos. O marido, Seu Alfredo, um rapaz de família evangélica. Lembra Dona Miguelina, como foi difícil fazer o marido aceitar o computador em casa. Essa senhora aplicada nos cuidados domésticos, sofre muito com m marido autoritário e conservador ao estremo, e tem de escutar as suas irmãs falando: -Alfredo é um homem bom; não bebe, não fuma.
Mas também não fode.
Dona Miguelina sempre teve seus desejos reprimidos, mas desconhecia, ou melhor, temia até aonde eles podiam ir.
Descobriu seu lado obscuro em dia, em que seu Alfredo chegou em casa e como bom marido deu lhe as costas e dormiu. Dona Miguelina teve vontade de matar seu marido, chegou a sonhar com o próximo morto, estirado na cama, e foi ai que acordou,acordou para os seus verdadeiros sentimentos.
Desde esse dia, Dona Miguelina apronta os afazeres domésticos no período da manhã, e logo após lavar a louça do almoço, se entrega ao fake de Helen, uma moça lasciva que troca volúpias e segredos nas comunidades do gênero sado da internet.
Helen é um esboço do que dona Miguelina foi na juventude, cheia de curiosidades.
Dona Miguelina não é nem um pouco diferente da sua mãe ou da minha, nem de outras donas de casa, espalhadas pelo mundo. Na verdade é só mais um ser humano com medo da retaliação e do preconceito, das pessoas que vivem no mundo perfeito, onde nada pode sair dos padrões aceitos.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Ângulos Retos

Calafrios se intercalaram com suspiros e junto com a dor que sentia por dentro a fizeram cair em lagrimas. Segurou o quanto pode, ficou durante horas em frente ao espelho olhando para uma face que não era dela, o plangor que havia naquele rosto, lhe fazia ficar desconhecida aos próprios olhos, e quando não podia mais agüentar se esvaiu em lagrimas, mas um choro diferente, que escoria pelos poros, pelos cabelos, pelas costas em forma de calafrios, nos dedos dos pés, pela genital, nos seios intumescidos. O seu corpo clamava por alguma coisa mais forte que pudesse aliviar esse sentimento, uma droga, um banho ou um abraço que fosse. Mas nada, não ali, naquele momento, fez com que ela se sentisse melhor.
Não lembra como isso acabou, mas acordou em algum lugar no tempo que ela não sabia se fevereiro ou março, outono ou verão. Quando retomou seus sentidos, seu corpo estava dolorido, se levantou e foi para o banheiro olhou o espelho antes inquisidor de uma agonia sem fim e tomou coragem ficou encarando ele por um segundo com os olhos fechados , por alguns segundos em sua mente a imagem da agonia se fez presente, mas ela suspirou e abriu os olhos de uma vez , e ficou mais alegre com a sua face recomposta como se tivesse saído de um sono de beleza, de uma hibernação que lhe fez bem , muito bem por sinal.
Tomou um banho quente, e logo seu corpo se refez do mal estar. Foi até o mercado comprou algumas besteiras e voltou para seu apartamento, abriu a janela e deixou o sol iluminar a sala, quando o sol sem cerimônias entrou pela janela , iluminou também a solidão que lhe fazia companhia, ela se sentou no chão e o sol a fez fechar os olhos, como quem vê alguém morrer e lhe fecha os olhos , estava sentada no sol mas sentia frio, não podia mais continuar assim, sem amigos, sem amor, sem um cachorro que fosse, estava ali na companhia da solidão e do medo , medo de uma nova crise de um novo sono que a levava da escuridão da sua casa para a grande sala sem luz dos pensamentos, não sabia por onde começar só precisava se de um empurrão, uma voz mesmo que interior que lhe falasse uma direção, olhos os ângulos retos da sala onde estava e se deitou no chão, abriu os braços em cruz e desejou do fundo do coração.... Para que esse parasse de bater...

Ficou ali deitada por alguns minutos, ate que escutou uma batida forte na porta de seu apartamento, pensou deve ser o sindico cobrando o condomínio atrasado, quando abriu a porta viu na sua frente uma figura estranha , cabelos encaracolados olhos verdes um rosto claro e envergonhado, na mão trazia um anuncio de divide-se AP. Ela já tinha se esquecido desse anuncio que tinha posto na lanchonete da faculdade, ninguém nunca tinha vindo ali antes, ela achou estranho gaguejou um pouco antes de dizer alguma coisa.Mas enfim pensou que esse poderia ser sinal, quem sabe a mudança viria dessa figurinha ali na sua frente.
A menina se sentiu a vontade no novo ambiente, que já tomava outra forma aos olhos da velha dona, de longe ficava observando a menina arrumando o quarto, as calcinhas espalhadas em cima da cama, o corpo que ainda aparentava estar se formando, a fragilidade dos movimentos, o conjunto lembrava um balé onde a musica é suave e os movimentos leves como plumas, mas por falar em dança, ela sentiu uma tontura e seu corpo se sentiu frio, uma dança macabra se apoderou de seus movimentos e a fez cair. Os sentidos demoraram a voltar, primeiro foi o olfato sentiu o cheiro de um perfume que ela adorava, logo vieram o tato e o paladar e por ultimo a visão, abriu os olhos e viu ela ali, viu mais de perto os traços do rosto , o nariz mais perfeito que tinha visto em sua vida, notou que ela também trazia uma tristeza no olhar , notou que não usava brincos, e que tinha aparelho na nos dentes de baixo, talvez por isso não sorria muito, ia falar algo mas sentiu algo no peito , como se seu coração parasse de bater por alguns segundos, pegou na mão da menina e segurou contra seu peito , sentiu uma pressão forte quase uma dor, quase ficou sem ar, será que seu pedido iria se realizar logo agora, suas pupilas se dilataram sentiu o sangue correr, os poros se dilatarem, pensou ser a morte, mas ali, entre os ângulos retos de seu apartamento descobriu o amor.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Correndo

Parecia que tudo ao seu redor sempre estava em alta velocidade; as pessoas, os lugares, os amores.

Era como se ela estivesse em um trem e não conseguisse se concentrar nas imagens que passavam pela janela, quanto mais ela tentava olhar, mais rápido passava.

Sentia-se apavorada. Os momentos de sua vida pareciam figuras borradas em um livro de infância.

Essa constante correria tomou sua vida por completo, quando ela sentia que algo de duradouro estava acontecendo, logo dava um jeito de por um ponto final.

As conseqüências ela nem sentia, pois, quando algo de bom acabava, ela já estava iniciando ou estava no meio de algum acontecimento novo, isso fazia com que sua cabeça não sentisse as dores e alegrias que o amor pode ter.

- Amigos?

- Os que conseguiram se adaptar ao seu jeito.

- Família?

- Ela não tem tempo de mandar notícias.

Mas eles já sabem como ela é. Já perdeu a conta dos empregos que teve na vida, dos mais comuns; Faxineira, operadora de tele marketing, frentista de posto de gasolina, vendedora.

Teve a fase descolada em que foi Promoter, Relações Públicas, Designer, Fotógrafa, capa de revista, editora de moda etc.

E fase barra pesada em que trabalhava numa casa especializada em fetiches. Nunca se prostitui, mas segundo ela mesma, realizar fantasias, mexe mais com o psicológico do que sexo pago, mas ela tirava de letra, sempre muito rápido aprendia a lição, ou mudava de emprego.

Sempre tudo muito rápido, sempre correndo.

Ed conseguiu mudar isso. Com um beijo roubado. Naquela noite no PUB GLS que ela freqüentava, ela estava numa viagem de ácido ouvindo The organ Memorize the city numa versão de um DJ qualquer. Ele a viu, se aproximou dançou na frente dela o embalo da música fez seus corpos se entrelaçarem rápido, ela nem abriu os olhos, ele levemente a boca. O ritmo acelerado da música diminuiu em sua cabeça, ela abriu os olhos, e pela primeira vez as figuras que antes sem foco, agora estavam quase que dançando em câmera lenta, sentiu aquele beijo pelo corpo inteiro, cada parte de seu corpo recebeu um estimulo agudo e lento, seu coração parece ter parado de bater por um segundo. Ela olhou pra frente e viu Ed.